33 Mineiros, 69 Dias: Uma jornada emocionante que transformou desafios em liderança inspiradora

Mesmo que você se recorde, vale a pena relembrar os detalhes: o enorme desmoronamento na mina de cobre de San José Copper, no norte do Chile, em 2010, que desafiou não apenas a geologia, mas também os limites da liderança e resiliência humana. É o que iremos explorar neste artigo, a extraordinária saga dos 33 mineiros, sob o viés da gestão.

A história em si é tão fantástica, que por si só já vale a leitura, mas além de se inspirar, você vai descobrir:

  • Como os mineiros enfrentaram a adversidade e mantiveram a esperança.
  • Estratégias de liderança exemplificadas nas profundezas da terra.
  • O poder transformador da resiliência em situações extremas.
  • Lições práticas para aplicar em seu papel de liderança.

Recapitulando: A queda e a esperança nos 700 metros abaixo

Imagine um prédio de 45 andares com cerca de 700.000 toneladas de rocha caindo sobre você e bloqueando a sua saída, sim, porque você está preso, abaixo de algumas das rochas mais duras do mundo a 700 metros de profundidade, isso seria um pouco mais que duas Torres Eiffel, só que abaixo da superfície.

Não que possa te tranquilizar, mas você não está sozinho, você faz parte de um grupo de 33 mineiros presos em um espaço de 50 metros quadrados, com calor intenso, sujeira e abastecido para apenas dez pessoas por dois dias.

Desesperador, não é mesmo?

Como se manter esperançoso numa situação tão hostil?

Do lado de fora, o mundo aflito buscava por soluções inexistentes. Não havia tecnologia de perfuração na indústria capaz de perfurar a rocha tão dura e profunda, de forma rápida o suficiente para salvar a vida de todos. Também não se sabia a localização exata deles e nem mesmo se estariam bem e vivos.

Resiliência nas Trevas: 69 Dias de Sobrevivência

O que vimos foi um verdadeiro trabalho em equipe, na verdade de diversas equipes, trabalhando juntas e de forma harmônica. Durante um período de dez semanas, centenas de pessoas provenientes de diversas profissões, empresas, setores e até mesmo nações uniram-se em equipe.

Vieram pessoas da NASA, das Forças Especiais Chilenas, voluntários do mundo todo, todos empenhados em prol de um único objetivo: salvar os 33 mineiros.

Ao longo desse processo, as equipes tiveram inúmeras ideias, tentaram muitas coisas, fizeram vários experimentos, falharam, reformularam, tentaram novamente, no entanto, o objetivo maior prevaleceu, as equipes persistiram, perseveraram e no décimo sétimo dia, chegaram ao refúgio, por meio de uma pequena incisão.

Essa verdadeira conquista trouxe ao mundo um pequeno alívio e esperança: um bilhete de que os 33 mineiros estavam vivos e foi determinante para os próximos 53 dias, se tornando o caminho para comida, remédios e, claro, comunicação.

Liderança emergindo das profundezas e fora dela

Para todo esse processo, tivemos alguns líderes que se destacaram e tiveram extrema importância para o sucesso do resgate que sofreram pressões inimagináveis:

Na superfície, o presidente chileno, Sebastián Piñera, assumiu pessoalmente a responsabilidade pelo resgate, com apoio do ministro da mineração, Laurence Golborne.

O engenheiro Sougarret, que exerceu a liderança técnica e tinha que lidar tecnicamente com o misto de esperança e realidade, ele tinha que ser realista mas também otimista e ao mesmo tempo ele também tinha que engajar as pessoas para que elas realmente fizessem aquilo acontecer.

E enfrentando a escuridão e a escassez, o líder dos mineiros Luis Urzúa, que manteve a si e os demais mineiros unidos e resilientes por quase 70 dias.

Estratégias de Liderança na Escuridão

Conforme destaca a renomada professora da Harvard Business School, Amy C. Edmondson, pesquisadora de liderança e gestão, em entrevista concedida à Revista Você RH, temos de toda essa história, valiosas lições de liderança.

  1. Diversidade de Liderança:

O presidente Sebastián Piñera, teve que lidar com a vasta diversidade de estilos de liderança, desde a calma inspiradora até a visão futurista e pragmática. Isso reforça a necessidade de uma liderança versátil, capaz de se adaptar a diferentes cenários e acima de tudo, resiliente.

É o que defende  Luthans et al. (2015, p. 2) ao conceituar o capital psicológico (PsyCap) como “o estado psicológico positivo de desenvolvimento de um indivíduo que se caracteriza por: (1) ter confiança (eficácia) para assumir e colocar o esforço necessário para ter sucesso em tarefas desafiadoras; (2) fazer uma atribuição positiva (otimismo) sobre o sucesso agora e no futuro; (3) perseverar em direção aos objetivos e, quando necessário, redirecionar os caminhos para os objetivos (esperança) para ter sucesso; e (4) quando assolado por problemas e adversidades, sustentando e recuperando e até mesmo além (resiliência) para alcançar o sucesso.”

Ou seja, a resiliência na liderança está associada à capacidade de enfrentar situações estressantes, aprender com as experiências adversas e se adaptar às mudanças de forma eficaz. Essa capacidade de recuperação é essencial para manter a produtividade e o engajamento da equipe, mesmo em momentos de crise.

  1. Equilíbrio entre Realismo e Otimismo:

Já o engenheiro Sougarret, foi o líder com o papel de equilibrar esperança e realidade. Essa habilidade de manter a visão positiva, mas ancorada na realidade, é fundamental para guiar uma equipe em ambientes desafiadores.

Se a pressão acima já não fosse o suficiente, ele também era o responsável por discernir quais ideias seriam testadas em meio a tantas sugestões que vinham de vários especialistas de vários países. Ele precisou além de ter muita inteligência emocional, inovação e capacidade de realização.

A referida professora de Harvard explica que as contradições fazem parte da liderança, afinal em cenário de constantes mudanças o líder eficaz deve ser capaz de equilibrar esperança e realidade, controle e inovação, inclusão e foco, ou seja, o líder é versátil.

E a essência da liderança se altera conforme os níveis organizacionais. Por exemplo, é esperado dos líderes operacionais um papel de apoio, motivação e inspiração. Já os líderes de média gerência, além dos anteriores, precisam ainda assumir riscos e pensar à frente e os de mais alto nível são responsáveis pela visão positiva e inspiradora, desenvolvendo cultura de confiança e comprometimento.

  1. Resiliência na Adversidade:

Assim como o líder dos mineiros, Luis Urzúa, os líderes corporativos precisam cultivar resiliência diante de desafios. A capacidade de manter a calma e a esperança em situações críticas é essencial. E isso, aprendemos com inteligência emocional.

Além disso, como nos mostra o caso dos mineiros, a liderança deve envolver a comunicação. Independente da situação, liderar é comunicar, é se fazer compreendido, ter escuta ativa, validação  do que foi dito e entendido.

Desconheço exemplo maior que tenha envolvido centenas de pessoas de várias partes do mundo, buscando uma solução desconhecida numa corrida contra o tempo no qual a comunicação tenha sido tão desafiadora, nos mostrando que é possível..

  1. Propósito como Força Motriz:

Todos os líderes, assim como os mineiros e as centenas de envolvidos destacam a importância do propósito compartilhado. Líderes empresariais devem inspirar suas equipes criando um senso de “nós” coletivo, alinhado a um propósito maior. E isso envolve a cultura organizacional.

Começa na seleção do candidato, e é alimentada dia a dia na empresa. Esse fortalecimento se desenvolve nos treinamentos, nas reuniões de feedbacks, no reconhecimento, e de tantas outras formas. Cabe ao gestor utilizá-las de forma estratégica.

  1. Versatilidade e humildade na Liderança:

A capacidade de lidar com contradições, como esperança e realismo, é crucial. Em um mundo dinâmico, líderes devem ser versáteis, navegando entre diferentes estilos de liderança conforme necessário.

E ainda assim, muitas vezes somos surpreendidos e temos que lidar com desconhecidas que necessitam tanto de coragem quanto de humildade.

Sim, humildade para reconhecer que não temos respostas para tudo, que por mais que nos esforcemos, vamos sim falhar e isso também faz parte do processo.

Os cenários mudam rapidamente, os desafios ficam cada vez mais complexos e muitas vezes podemos nos sentir sozinhos, perdidos e para lidar com tudo isso é preciso muita inteligência emocional.

Muitos podem se sentir desconfortáveis em expor suas vulnerabilidades, suas incertezas diante da equipe, mas saiba que isso é uma das formas que aumentam ainda mais o engajamento, confiança e comprometimento da equipe, conforme defende Brené Brown (2019) em seu livro A coragem para liderar: Trabalho duro, conversas difíceis, corações plenos.

Quer saber porquê? Porque gera identificação. É necessário ter coragem e humildade para pedir ajuda, para tomar decisões mais assertivas, e isso vale tanto para a vida, quanto para os negócios. Segundo Brown, precisamos ser vulneráveis para construir a confiança e ter coragem de agir quando não se pode controlar o resultado.

E bem, ela está certa. Líderes não deveriam carregar o peso de terem respostas assertivas para tudo, porque isso é impossível de fazer. Da mesma forma, devem ter segurança psicológica para lidar com a falta de respostas. O caminho para ter mais confiança e engajamento da sua equipe pode estar justamente na coragem de ser imperfeito.

O resgate épico e aprendizados que ficam

O desfecho emocionante, como imagino que se lembre, foi acompanhado mundialmente. Uma audiência global, comparável à de uma final de Copa do Mundo, testemunhou o sucesso da megaoperação de resgate: todos os 33 mineiros resgatados com vida, um mix de euforia e choro!

É gratificante lembrar deste caso pois nos mostra o quanto podemos e somos capazes.

O poder do esforço conjunto, somados à liderança, comunicação, inteligência emocional tornam situações complexas em possíveis e menos desafiadoras. É o que desejo a você. Uma gestão mais significativa, com liderados engajados em prol dos mesmos objetivos e que alcancem o sucesso esperado.

Gostou de relembrar esse caso? Qual(is) a(s) lição(ões) que foi para você a mais relevante?

Eu começo: Para mim, mais que um feito técnico extraordinário, toda a operação proporcionou valiosas lições sobre a importância da inteligência emocional na liderança organizacional.

Pense: os mineiros tiveram que lidar com o medo, a incerteza e a ansiedade de não saberem se seriam resgatados com vida. E não apenas eles, mas todos os envolvidos e tiveram que lidar com  a inteligência emocional para manter a calma, a esperança e a coesão entre os membros das equipes, sejam elas de dentro ou de fora.

Conforme destaca Goleman (1998), a inteligência emocional envolve a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, assim como as emoções dos outros.

Portanto, mesmo diante das circunstâncias adversas como essa, devemos investir para, em qualquer situação, podermos tomar decisões mais assertivas e coerentes, além de melhorar nossa capacidade de lidar com pressões.

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